Subindo a ladeira

Havia uma rua conhecida pela sua inclinação, era tão longa e vertical que cansava só de ver. Poucas pessoas a enfrentavam. Desviavam pela rua lateral e seguiam. Mas um dia, andando pelas ruas da cidade, encontrei-me com uma senhora, olhos cor de mar, lenço na cabeça, um galho na mão. Cumprimentei. Prontamente me respondeu e, indo pelo mesmo caminho, a acompanhei. Conversávamos. Perguntei para onde ela ia e assim ela me respondeu: – vou subir a ladeira! Pensei: – Corajosa. Que força teria naquelas pernas.

Entre assuntos variados chegamos ao pé da ladeira. Fiquei ali parada, olhando aquela senhora subir. Passos firmes, para não cair; sem pressa. Às vezes, parava. Ficava cada vez mais distante da minha visão e mais perto do seu destino. Cada vez mais pequenina, longe. Em um piscar, não mais a vi.

Ecoa em mim as palavras “vou subir a ladeira”. Era o que dizia certa senhora, sempre que ia a algum lugar, e tão mais concisa quando se referia a sua morte. Por que não descer? Afinal, não somos colocados em um caixote debaixo do chão? : -Estou subindo a ladeira!

Era convicta. Subia sim! Ela almejava algo que só se via no alto. E como via. Nos seus pés, as marcas de uma caminhada. Nas mãos, impressões de quem semeava vida. Nos olhos, o reflexo de quem olhava para cima; ela tinha os olhos cor de Céu.

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